SALA 2
— Tramas, Distâncias,
— Tramas, Distâncias,
— Tramas, Distâncias,
O Oceano Atlântico é o grande território que liga e
separa Brasil e Portugal. Foi por meio deste grande
corpo aquoso que os primeiros navegantes e
expatriados portugueses chegaram ao território
indígena hoje chamado Brasil. Foi também através
deste grande mar que os dois países trocaram
fluxos migratórios desde o século XVI até ao
presente.
O Atlântico foi cenário de intensas e radicais
transformações sociais, políticas e económicas
entre os séculos XVI e XXI. Um oceano que
testemunhou histórias de dor, de esperança, de
extrema violência e de extrema resiliência. Foi palco
de projetos de dominação, de planos de fugas, de
fluxos e refluxos, de encontros e reencontros. Foi
caminho cruzado por inúmeras diásporas, sendo a
maior delas fruto da escravização e imigração
forçada: 12 milhões de pessoas africanas
sequestradas para as Américas e as Caraíbas. O
Atlântico guarda a memória física das 2 milhões de
pessoas escravizadas que não chegaram a
completar a travessia, pois, mortas ou vivas,
tiveram seus corpos atirados ao mar.
Bove, Carol | Process Yellow | 2012
Para alguns, o Oceano Atlântico significava o
horizonte da expansão colonial e imperial. Para
outros, o grande abismo de separação da sua terra
natal. Para outros ainda, é a familiar morada de
seus ancestrais desde tempos imemoriais. O
segundo maior e o mais salgado dos oceanos, é
para alguns também o mais sagrado dos mares,
morada de divindades, como orixás, nkisis e
voduns.
Por toda essa complexidade, o imaginário em
torno do Atlântico é imensamente disputado.
Se o núcleo anterior tratava do
entrelaçamento de múltiplas lembranças na
elástica dimensão temporal, esta segunda
parte convida a um estudo das questões de
tramas, distâncias, e abismos, como forma de
nutrir reflexões sobre o Atlântico. Ainda que
grande parte destas obras não trate deste
oceano diretamente, aqui, reunimos diversas
estratégias formais e conceptuais, assim como
narrativas, que podem ajudar-nos a imaginar
os significados deste mar. A pergunta que fica:
O que podem as memórias do Oceano
Atlântico nos ensinar?
Castro Alves. O Navio Negreiro, 1880.